Análise conjuntural da crise do coronavírus: Percepções dos primeiros momentos

Por José Tocchetto de Oliveira

Estamos passando por um período único no Brasil. Eu nunca tinha imaginado que algo dessa natureza pudesse acontecer no país. Em várias análises de contexto estratégico que tenho auxiliado clientes a fazer, as ameaças de mercado consideravam retrocessos nos negócios, mas nada como uma parada total das empresas em meio a período normal de produção, simplesmente tendo que fechar as portas, mandar o pessoal para casa e ficar de quarentena aguardando passar a pandemia do vírus e do pânico gerado em função dela. Agendamentos de serviços marcados há meses, projetos de consultoria recém começando, pedidos de venda sendo produzidos para o final da semana, recebimentos de materiais e matérias-primas já programados e quase sendo entregues, tudo parado sem quase nenhuma chance de planejar adequadamente.

Pessoas e empresas se adequando ao home office, onde possível. Serviços de forma geral ofertados diariamente à população reduzidos drasticamente, sem pessoas nas ruas para consumir, para trabalhar, para entregar; uma loucura mesmo.

Quem trabalha com gestão de riscos deve ter aprendido mais alguma coisa neste momento e quem não acreditava nos riscos, passou ou está passando a acreditar. A coisa é séria. Quanto mais cedo nos preparamos para situações de emergência, melhor planejamos, melhor treinamos e melhor executamos, reduzindo os impactos negativos.

O mercado nunca mais será o mesmo depois dessa pandemia. O impacto na economia de uma forma geral ainda vai se revelar. Não temos ideia de onde a coisa vai parar.

Mas…

Ao mesmo tempo, algo novo aconteceu. As pessoas se uniram, se solidarizaram umas com as outras, divergências históricas entre condôminos de um mesmo condomínio foram esquecidas. As pessoas estão se ajudando, ajudando os mais velhos; o respeito aos idosos voltou mais forte e, finalmente, apareceu o lado bom das pessoas, que muitas vezes julgávamos que tivesse desaparecido na correria do dia a dia, nas redes sociais excessivas, no afastamento das pessoas de suas famílias, nas brigas políticas infindáveis, no cada um por si.

Estamos aprendendo a conviver em sociedade novamente, a dar importância para o que realmente importa, a cuidar mais de nós mesmos e dos nossos, deixando de lado coisas inúteis, fúteis e até idiotas que valorizávamos muito mais do que mereciam.

O home office como forma de reduzir gastos desnecessários com os mesmos resultados, as telerreuniões para todas as partes do país e exterior, a valorização da tecnologia, a redução da correria, a redução dos engarrafamentos e a redução das emissões atmosféricas são novas realidades que devemos incorporar cada vez mais na nossa forma de trabalhar.

No relacionamento com as pessoas vimos a importância de estar juntos, próximos, poder abraçar e conversar, brincar, aproveitar as companhias, fazer coisas diferentes, sem celular, sem televisão, simplesmente convivendo com quem é importante para nós. Este resgate das relações pessoais talvez tenha sido o maior benefício de toda esta crise. Logo, logo, poderemos fazer isto.

Precisamos aprender com as experiências e mudar o que for necessário para atingirmos um estado de maior satisfação, saúde, relações amorosas com as pessoas e bem estar geral da população, razão maior de tudo que fazemos ou deveríamos fazer.

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